domingo, 26 de setembro de 2010

. domingo, 26 de setembro de 2010

MUROS SEM ESCOLA Marcelo Tavares
Geógrafo


Procura-se um local para chamá-lo de Escola onde a igualdade e a justiça sejam características pertinentes a todos. Há muito tempo frases do tipo “temos que promover a igualdade” ou “devemos fazer justiça” emolduram pronunciamentos que, além de estarem distantes do que se pratica, são totalmente insuficientes. Uma Escola Justa existe? Existirá? Existiu? Justiça e igualdade são capazes de fomentar melhorias coletivas em nossas Escolas? Como? Essa fala inevitavelmente nos remete a questionamentos do tipo, o que de tão prioritário estávamos fazendo quando deixamos escapulir de nossa labuta docente as cantigas de roda? Cadê a amarelinha? Mata soldado? E o lanche dentro de um pacotinho plástico ao lado da garrafinha de café, suco ou chá? Abraços? Ovo choco? Palmas? Vamos cantar? Primeiro todos, depois só as meninas, agora só os meninos! Deveres de casa tinindo, cadernos encapados com papel de presente, lápis apontado com faca, banho tomado, caminho do piolho nos cabelos bem penteados e rumo a Escola. Cadê o pião e a pandorga? Bolinha de gude? Pula corda? Grão de feijão no algodão molhado? Lata cheia de areia amarrada em um fio que virava carrinho? Alguém viu a flor da professora? Sopa com legumes colhidos na horta da Escola? Lembram do passa anel? Mãe cola? O que fizeram da Abelha? Cadê o Elefante? Implodiram a Igreja? Comeram o Ovo e roeram a Unha? – o Caminho já não é mais tão Suave assim. Lembram do giz molhado para fazer linha no quadro? – eu lembro. Tinha fila uma cabeça atrás da outra, cobrir e firme – muito bom. Ditado, caligrafia, cópia, desenho cego, fazer leitura e responder a tabuada só em pé ao lado da carteira – sensacional. Reunião de pais aos sábados a tarde com a Escola sempre cheia - incrível. O cincerro que um dia esteve no pescoço da vaca era o sinal perfeito que o recreio havia acabado. E ser escolhido para apagar o quadro então? – nossa como essa pequena ação completava nossos dias. Tudo desapareceu. Enfim a modernidade chegou a nossas Escolas. Bom, ótimo, magnífico – será? Tem responsável para tudo isso? De quem é a culpa de tamanha revolução em nossas Unidades Escolares? A industrialização? A tecnologia? A globalização? A inversão de valores – mas quem permitiu inverter os valores ou indo mais além, quem foi o inversor dos valores? A culpa só pode ser dos professores, dos alunos ou dos pais? – fácil culpá-los, né? Quem sabe o capitalismo? Será que há realmente algo ou alguém que mereça levar o título de culpado, responsável ou promotor disso tudo? Vocês podem estar certos de que a modernidade chegou e consigo toda essa tecnologia à nossa disposição, como por exemplo, a oferta de produtos mais interativos, dinâmicos e completos, como por exemplo, o livro que emite o som dos dinossauros (quem gravou?), aluna de celular com TV que passa aqueles programas inúteis, professor de notebook com MSN e Orkut e Escola com telefone, internet e máquina de xerox – será que moderno e atual é somente isso? Já em outra esfera, questiono a dita cuja “modernidade” ao me deparar com professor apanhando de alunos e pais violentos, agressões verbais gravíssimas, alunos drogados, adolescentes grávidas, alto índice de evasão, de retenção e de aprovação sem amostragem mínima do aprendizado real – eis a modernidade que contradiz ao, de um lado oferecer o acesso instantâneo à informação e, em outro momento, fomentar um cenário de caos e em pleno funcionamento. Se for assim, prefiro a minha Escola Isolada Municipal Presidente Costa e Silva lá de São João Abaixo. E você? Onde ficaram seus “velhos tempos?”

0 comentários:

Postar um comentário